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Artistas homenageiam escritores e poetas que tecem a história de Parintins

Exposição das telas se estende até dia 29, aberta ao público na praça da alimentação do Mercado “Leopoldo Neves”.

Floriano Lins
Por: Floriano Lins
22/04/2022 às 13h09
Artistas homenageiam escritores e poetas que tecem a história de Parintins
Exposição “Parintins em Aquarelas” - Foto: Rogério Cabral

Floriano Lins

Da redação

 

A forte chuva que predominou o feriado de Tiradentes não impediu que organizadores e o público participassem, no começo da noite desta quinta-feira, 21 de abril, da inauguração da exposição “Parintins em Aquarelas”, na praça da alimentação do Mercado “Leopoldo Neves”, área central de Parintins, a 369 km de Manaus. Com obras produzidas a partir das narrativas literárias do saudoso historiador Tonzinho Saunier, do jornalista e sociólogo Wilson Nogueira, do poeta Pedro Xisto, do compositor e jornalista Fred Góes, do cordelista José Maraca, da escritora e educadora popular Fátima Guedes, e do escritor Milton Hatoun, a exposição acontece até o dia 29 deste mês.

Proposta pelo acadêmico de Artes Visuais da Universidade Federal do Amazonas e desenhista do Conselho de Artes do Boi Bumbá Caprichoso, Jr. Fuziel, a mostra expressa a narrativa literária de escritores e poetas que fazem de Parintins seu palco literário, em uma paleta de cores trabalhada em escala monocromática, técnica muito bem expressada nas telas que compõem o conjunto da exposição. Fuziel conta com uma equipe de apoio à sua proposta e reúne ativistas culturais e artistas plásticos identificados com o cotidiano da Ilha do Boi Bumbá.

Considerando a predominância do tempo chuvoso que impediu maior participação do público e de homenageados, a Diretora Executiva do projeto, Írian Butel destacou a importância do momento para a cultura local e regional. “Com a mãe natureza ninguém briga, apenas um dia diferente, muita chuva na cidade. Alguns homenageados não estão em Parintins, casos da professora Fátima Guedes e do artista Fred Góes, mas que enviaram suas contribuições a este momento ímpar de nossa cultura. Pessoas que escrevem e descrevem tão belamente e que defendem nossa terra com todas as forças”.

“A gente tem a honra de assinar a curadoria desse evento nesse momento diferenciado de nossa cultura. Ficamos muito felizes com a presença do público e de dois homenageados, Wilson Nogueira e Pedro Xisto. Momento emocionante”. Além das equipes de produção e artística, Butel fez “agradecimento especial ao senhor Antônio Fuziel, responsável pela elaboração das estratégias de montagens das telas, desde os chassis, com a estrutura física para que chegássemos a esse resultado”.

“Nosso sentimento é de gratidão. Falar da importância de Leis de incentivo à cultura para que a arte não fique atrelada somente às narrativas do boi de arena. A gente descobre que nossos artistas que atuam nesses espaços de comunicação artísticas, no caso as instituições folclóricas, possam, ganhem espaços de liberdade de criação. E ‘Parintins em Aquarela’ grita isso, um grito de liberdade de criação gigantesca. A gente sente essa autonomia, essa liberdade brotando”, destaca Írian.

Ela confirma que as obras ficarão em exposição no mercado municipal até dia 29 e “ainda temos alguns quesitos a cumpri dentro de nosso programa de atividades, como publicar o catálogo das obras, mas consideramos que entregamos à comunidade um belíssimo resultado do projeto”.

Fuziel

Para o artista Jr. Fuziel, proponente do Projeto, “é um momento de muita alegria pra mim, estar deixando um trabalho exposto à nossa cidade. Uma honra fazer oito obras com base na literatura e nas poesias de autores que fazem de Parintins suas inspirações”.

Segundo Fuziel, o ato de inauguração “foi um momento de muito aprendizado com as participações do jornalista Wilson Nogueira e do poeta Pedro Xisto”. Agradeceu a todos “que embarcaram nesta caminhada junto comigo neste projeto”. Lembrou os artistas que integram a equipe e a figura do pai, Antônio Fuziel, que acompanhou de perto o desenvolvimento dos trabalhos até a exposição.

 

Obras

Para os organizadores da exposição, a proposta, inédita, se constitui na união de linguagens artísticas que tem como base a poesia visual e literária, e assim permite construir cenas ainda não visualizadas pelo público maior. É a oportunidade de conhecer olhares diferentes sobre um único tema: PARINTINS.

A obra MEMÓRIA é inspirada na frase do escritor Milton Hatoun, “não existe literatura sem memória”. Referência artística na técnica utilizada pelo artista Evanil Maciel. Monocromia em escala azul.

TONZINHO é um cartun inspirado nas narrativas cômicas de Tonzinho Saunier sobre o folclore parintinense. Referência ao grupo Buriti Quadrinhos. Conta com a participação do desenhista Kedson Oliveira. Monocromia em escala verde.

BRINQUEDO DA ESPERANÇA é inspirada na toada “Dança das Cores” do jornalista, músico-compositor Fred Góes. Técnicas variadas com destaque para as técnicas da aerografia e espátula. Referência ao trabalho do artista Pito Silva. Participação do desenhista Igor Vianna. Monocromia em tons vermelho.

O livro “Órfão das Águas”, do escritor e jornalista Wilson Nogueira, inspirou a obra ENSINAMENTO. Referência base da técnica utilizada pelos artistas Curumins. Monocromia em tons marrons.

O texto “Histórias de Pescador”, do parintinense Pedro Xisto, ganhou dimensões na obra ENCANTES. Referência ao trabalho dos artistas que atuam nos galpões e que desenham em linhas para construir e movimentar a robótica alegórica. Monocromia em tons laranja.

Do cordelista amazônico José Maraca nasceu a obra EM CORDEL, para expressar o folclore local por meio da estética, em uma alusão as inúmeras narrativas sobre o início da festa. As linhas brancas remetem à textura da madeira das casas espalhadas pela Ilha. Monocromia em tons azul e vermelho.

A arte digital, com seus vetores e luzes computadorizadas, acende a obra À LUZ DA LOUCURA,  inspirada no livro “O Andaluz” do escritor Wilson Nogueira. Monocromia em preto ligada a ideia tecnologia. Participação do desenhista Kedson Oliveira.

A obra SEMENTEIRA, com linhas da técnica do Zentangle, traz a presença feminina em várias áreas de atuação, inspirada na obra da escritora Fátima Guedes, mulher eleita pelos organizadores do projeto para compor a exposição. O trabalho tem o protagonismo feminista da educadora nos traços do artista Miguel Carneiro, arte educador que atua junto a estudantes de Parintins. A Monocromia em tons lilases destaca a história interventiva de Guedes nas lutas sociais da Ilha. A obra revela a dinâmica feminina na complexa semeadura do Bem-Viver Universal.

Foto: Rogério Cabral

 

Protagonismo Feminino

Fátima Guedes está em Manaus e foi uma das ausências na inauguração. Em texto enviado à coordenação do evento, Guedes justificou: “Infinitos tons aquarelados dissolvem distâncias físicas e levam meu reconhecimento amoroso à organização do Projeto Parintins em Aquarela...”

Fez referências a Írian Butel, Jr Fuziel, Éricky Nakanome, Miguel Carneiro, “à teimosia literária de Wilson Nogueira (problematizador em potencial de meus ensaios literários), a Tonzinho Saunier, Pedro Xisto, Fred Góes, José Maraca, Mílton Hatoun”.

“A surpresa da notícia sobre o Evento me chega através da Companheira de muitas caminhadas e de diálogos libertários - Írian Butel. Em nosso alcance interpretativo, o Projeto Parintins em Aquarela atende a insistentes e sadios clamores na defesa de ideais fraterno-republicanos: escuta e acolhimento a expressividades múltiplas”, escreveu.

Segundo ela, “a princípio, não nego um certo impacto às referências sobre minha historicidade... Reação até natural, haja vista, o volume de silêncios e invisibilizações às nossas intervenções somadas a de outras tantas categorias que pensam e se posicionam na contramão do determinismo sistêmico e respectivas convenções patriarcais, racistas, misóginas...”

“Admita-se: não é tão simples Ser Mulher na atual conjuntura; pior ainda, quando esta Mulher assume-se dona, autora do próprio pensar, do próprio agir - perfil comprometido com a ética universal humana anunciada pelo Educador Paulo Freire, configurada no direito de ir e vir, de comer, de vestir, de dizer a palavra, de amar, de escolher, de trabalhar, de crer e de não crer, o direito à segurança e à paz; de ser ético e de transgredir a própria ética... Portanto, autonomia é o estandarte para se fazer existir neste universo/diverso”, aponta Guedes.

Para a escritora, “considerando-se os conflitos dialéticos conjunturais já referendados, raras leituras sociais se atrevem dialogar e visibilizar o real-concreto de jornadas históricas em defesa da Justiça Social praticizadas sob perspectivas de missão social, política de cunho transformador. Por sua vez, o Projeto Parintins em Aquarela desfaz o politicamente correto, abraça diferentes jeitos de conceber, de pensar e de ler a realidade aguçando o olhar sobre as subjetividades manifestadas nas oito semeaduras referendadas. Vai além: sintetiza linguagens, olhares artísticos e aposta na possibilidade de ressignificar a dinâmica existencial de Parintins sob teçumes solidários, fraternais em seus variados aspectos”.  

“Em nome da Justiça Social; em memória de todas as Manas silenciadas e invisibilizadas, e das Causas abraçadas sem temor, reconhecidas nos propósitos do Projeto Parintins em Aquarela, minha plena gratidão. É a voz de minha práxis, de minha missão, sobrepondo-se ao ego ou a quaisquer interesses pessoais”, conclui.

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