Cema Teixeira*
Neste dia, mais uma vez, sinto a necessidade de destacar o óbvio: a importância do diagnóstico precoce, que viabiliza intervenções essenciais para promover o desenvolvimento saudável das crianças, e também do diagnóstico tardio, frequentemente relacionado a indivíduos no espectro de suporte 1, considerado "leve."
Essas pessoas passam a vida tentando se encontrar, sendo rotuladas como esquisitas, imaturas (tolas) por causa do choro fácil, lentas ou extremamente inquietas (perturbadoras). Muitas vezes, o que se observa, na verdade, é um Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Além disso, são frequentemente chamadas de "gênios inúteis" devido à inteligência acima da média, que facilita a aprendizagem acadêmica, mas não se traduz no mesmo sucesso profissional. Frases como "É tão inteligente, mas não tem sucesso na vida" são ouvidas com frequência.
Esses indivíduos lutam para se encaixar no grande quebra-cabeças imposto por um padrão social cruel que os marginaliza, os adoece e os obriga a ocupar posições inadequadas à sua natureza.
Compreender o que é o autismo, como funciona o cérebro de uma pessoa autista, e respeitar suas peculiaridades poderiam nos aproximar da tão sonhada igualdade, prevenindo sofrimentos e injustiças.
Se houvesse respeito e direitos assegurados, o termo "inclusão" seria redundante, já que estaria ao alcance de todos. Sou mãe neurodivergente, transito entre os níveis de suporte 1 e 3 e observo, diariamente, inúmeras diferenças que vivo e percebo.
Por isso, faço questão de enfatizar que a romantização do autismo só é conveniente para os vaidosos e para aqueles que mascaram a realidade dos que necessitam de tratamento e apoio integral em todos os aspectos de suas vidas.
Também é crucial ressaltar que autistas envelhecem, e para muitos, a maturidade civil é um peso. Com o passar dos anos, os poucos atendimentos disponíveis se tornam praticamente inexistentes.
Não há conhecimento de abrigos públicos para pessoas idosas ou órfãs dentro do espectro autista, o que reforça a urgência de políticas públicas que viabilizem atendimentos tão específicos e indispensáveis.
Até que essas políticas sejam implementadas, persiste uma angústia inevitável: como será o futuro dos nossos filhos quando os pais já não estiverem mais aqui para protegê-los?
* Maria Cema Teixeira é Mãe de Anjos Azuis e Ativista da Causa Autista.